O GARROTE DE TRÊS ORELHAS

GERAL

* Matéria publicada na edição 531 do JPF, no dia 10 de abril de 2021

Uma anomalia genética bastante curiosa. Assim pode ser definido o caso de um garrote com três orelhas nascido na propriedade do agricultor Francisco Tavares (63 anos), mais conhecido como “Chico”, no bairro rural Quebra-Machado. O animal, mestiço da raça Guzerá com outras linhagens (já cruzadas em gerações passadas), é saudável e está com quase um ano de idade. A diferença dele para os demais bezerros tem chamado a atenção de quem fica sabendo de sua história, e todos querem vê-lo para comprovar a existência do possível órgão.

Diante de tantas notícias espalhadas sobre o garrote diferenciado, a reportagem do JPF procurou o dono do mesmo, o “Chico do Quebra-Machado” para entender um pouco mais a história. Devido às restrições impostas pela Onda Roxa, instituída em março pelo Governo de Minas, e em respeito às deliberações do Comitê Covid – 19, a entrevista se deu por telefone. Bastante descontraído, o proprietário do animal contou como se deu a chegada do bezerro ao mundo e não hesitou em dizer que o mesmo não possui tratamento especial só por causa da anomalia. “Ele é como uma ‘criação’ normal. Não tem privilégios. Vive no pasto com os outros garrotes como se não tivesse nada de diferente. Nem nome tem, pois, aqui, criamos gado para o corte, não para o leite. Então, não tem tratamento especial. Quando o bezerrinho nasceu, ficamos meio surpresos, pois nunca tínhamos visto uma coisa desse jeito, mas, agora nos acostumamos. No entanto, quando alguém de fora fica sabendo que ele tem aquele negócio perto da nuca, parecendo uma terceira orelha, a curiosidade atiça e todo mundo quer ver. Mas, pelo fato de ficar solto na propriedade e longe daqui da sede, o trazemos para o curral mais em época de vacinação”, disse o pecuarista. “Hoje, ele já está um garrote, pesando entre dez e 11 arrobas. Porém, quando nasceu, ele era muito diferente dos outros. No dia em que a vaca o pariu, fui lá no pasto ver. Então, olhei o bezerro e falei: ‘uai, que diabo é isso, parece até um cabritinho’. Ele era encolhidinho, parecia um cabritinho, com um negócio no meio da nuca. Até pensei que fosse coisa atoa, que iria cair. No entanto, no dia em que trouxemos o gado para vacinar, fomos tentar pegá-lo para ver como era aquilo, e ele enfiou cabeça no meio da tábua e entalou, mas aquele trem na nuca não saiu, e está resistente e forte até hoje. Não vai cair mais”.
Ainda segundo Francisco, depois que a notícia se espalhou, muita gente se interessou pela história. “Assim que contamos a novidade, a turma toda queria ver e tirar foto. A minha esposa Marlene mesmo falou que ia registrar e mandar para o Globo Rural, mas não deu certo. Depois, pedi para colocarem umas imagens que fizemos dele no grupo de WhatsApp do programa Mais Genética, onde tem bastante criador de gado, e o trem alastrou. Achei engraçado aquela repercussão”, comentou o agricultor. “A linhagem dele é proveniente dos animais que tenho aqui em casa. Ele é oriundo de cruza natural, não de inseminação artificial”.
Questionado se os pais do garrote possuem algum parentesco, motivo que pode ter levado ao surgimento da anomalia, Francisco revela que existe, sim, a possibilidade de haver uma proximidade entre os genitores. “Vou falar um negócio pra você, acho que o avô do bezerro é pai da mãe e do pai dele”, respondeu assustado. “Mas, independentemente disso, estimamos o garrote assim como os demais. Não é pelo fato de possuir uma coisa diferente, anormal, que será visto com outros olhos. O bezerro é perfeito, cresceu e engordou, está bonito. E é isso que importa. Vamos criando ele desse jeito”.
O bezerro de três orelhas é criado junto com outros animais existentes na propriedade de Francisco. Todos vivem soltos no pasto e, futuramente, serão destinados ao mercado.

A anomalia

Diante da descoberta da anomalia do garrote, a reportagem do JPF procurou o médico veterinário e especialista em genética embrionária, André Ribeiro, para tentar entender o que pode ter gerado o suposto terceiro órgão.
Em uma rápida conversa com a equipe, o profissional explicou que vários fatores podem ter contribuído para a existência da deformidade, como cruzamento de animais consanguíneos ou até contaminação por parte da mãe. “No caso desse bezerro, especificamente, existe uma má formação congênita. Isso é multifatorial. São diversas possibilidades que podem gerar as anomalias. Algumas delas se dão por meio de doenças virais, outras por intoxicação via metal pesado ou planta tóxica e há ainda a questão da consanguinidade. Neste caso específico, parece que a última alternativa seria a desencadeadora de todo o processo para a geração da anomalia”.