Promover uma vida mais digna aos animais, protegendo-os da maldade de muitas pessoas e dos perigos que a rua oferece. Foi com este objetivo que, há quatro anos, a engenheira de produção e confeiteira poço-fundense, Yaçanã Vieira (25 anos), formou um gatil na propriedade em que reside com os pais Vanderlei (Lelei) e Joana. Contando atualmente com 18 felinos, entre machos e fêmeas (todos castrados), a jovem se diz realizada em poder desempenhar este tipo de ação e, ao mesmo tempo, ter um espaço diferenciado e recém-ampliado para contemplar a natureza, oferecendo conforto aos seus amiguinhos de quatro patas.
Segundo a própria Yaçanã, em entrevista concedida à reportagem do JPF na tarde do último dia 25 (segunda-feira), o amor pelos bichanos começou com um incentivo do avô paterno, José Vieira, o ‘Zé Briano’, já falecido, que a fez superar a repulsa até então existente pelos felinos. “O vovô tinha gatos aqui na horta da minha casa, e cuidava do jeito dele. Eu não chegava perto, pois morria de medo. Certa vez, quando eu tinha 6 anos de idade, uma gata deu cria lá. Ele me chamou pra ver. Fui, mas bastante apreensiva. Depois de ‘conhecer’ os filhotes, passei a ir todos os dias. E assim foi durante muito tempo, já que a gata começou a se procriar constantemente. No entanto, em uma dessas ‘ninhadas’, o vovô disse que daria um jeito nela, porque não estava perdendo nenhum cio. A partir desta data, me prontifiquei a ajuda-lo e comecei a ficar mais próxima dos animais. Posteriormente, vieram os gatos que o pessoal solta, abandona, e fui pegando e castrando. Só que não tinha lugar pra eles ficarem para se recuperar e alimentar, por exemplo. Foi onde nasceu a ideia de construirmos o Gatil seguindo todas as regras dos bichanos, como a existência de um local adequado para as necessidades fisiológicas, arranhadores para “controlarem” o crescimento das unhas, poltronas e redes para dormirem… Fizemos tudo pensando neles mesmos. Hoje, eles ficam apenas fechados, mas com o conforto que merecem. Gato solto não dá certo. Existe muita gente ruim que envenena os animais sem motivos. Além disso, é constante o perigo das ruas com os carros, cachorros…”.
Ainda conforme Yaçanã, com o passar do tempo e o aumento da “turma”, foi necessário ampliar o espaço do Gatil. Então, ela e os pais não hesitaram e construíram uma área nova, totalmente aberta, mas cercada com telas e composta por árvores, para que os bichanos fiquem mais à vontade e tenham um contato próximo com o meio ambiente. “Esse espaço na natureza foi implantado recentemente, porque eu sentia que eles estavam passando muito calor. Falei para o meu pai que queria fazer um lugar todo aberto, que tivesse árvores dentro e fora e que fizesse mais sombras para os animais ficarem sossegados. Rapidamente, ele e minha mãe abraçaram a ideia e elaboramos o projeto, agora, preferido pela grande maioria dos bichinhos”.
Mas nem tudo são flores. Em meio a tantos fatos alegres, as tristezas também se apresentam com a perda de felinos para enfermidades graves. “Infelizmente, já perdi dois animais devido a uma doença bastante agressiva, que é o câncer. Este mal pega os bichinhos igual a nós, seres humanos. É uma doença bem traiçoeira e triste. Todo animal é muito inocente, e eu sempre ficava me perguntando: ‘por que ele está com isso?’, ‘ele não deveria sofrer assim’… Só que cheguei à conclusão que não poderia pensar dessa maneira, pois iria entrar em depressão. Fiz de tudo para eles, mas, infelizmente, o câncer tomou conta. Em um dos gatos, os tumores tomaram conta apenas da face. O corpo era perfeito, funcionava normalmente, mas o câncer vai estraçalhando os pontos em que está. Tratei deles e fiz tudo que estava ao meu alcance. O outro bichinho acometido pela doença foi a gata que o vovô me levou para ver lá na horta. Ela era muito forte e não vivia dentro do Gatil, pois já era do mato. Essa foi mais difícil de cuidar, mas, mesmo assim, sofri. A gente pega amor aos bichinhos e fica sentido sim, não adianta, não tem pra onde correr. O que me tranquiliza é saber que fiz tudo que pude”, relata Yaçanã.
Para manter o Gatil, a jovem engenheira revela que os custos não são baixos, mas nem são levados em conta devido à felicidade proporcionada pela presença dos felinos. “Esses gatos são meus, não doo para ninguém. Quando os arrumei e como são todos de rua, tive ajuda com castrações por parte da Prefeitura. Apenas dois machos não foram contemplados pelo programa municipal, pois, de uma época pra cá, somente fêmeas estão sendo atendidas junto a essa demanda. Tirando isso, o restante dos gastos com ração, remédios, vermífugos é custeado por nós mesmos. Atualmente, compro cerca de quarenta quilos de ração, por mês, para alimentar a ‘gataiada’. E isso não vai exclusivamente para os meus. Faço questão de colocar comida para os animais de rua também, que vêm ‘passear’ aqui em casa todas as noites”, brinca Yaçanã. “Cuidar dos gatos é uma terapia pra mim. É muito gratificante ter adotado esses bichinhos. A maioria chegou em estado crítico. Um deles apareceu com dificuldades para respirar. Estava totalmente doente. E só de recuperá-lo e ver que melhorou, que está ficando bonito e saudável, é uma sensação indescritível”.
Antes de encerrar o bate-papo, Yaçanã deixou uma mensagem àqueles que costumam abandonar animais pela cidade e pela zona rural. “Uma coisa que acho muito importante e voltando ao assunto do meu trabalho é em relação às castrações. Além desses gatos aqui, já castrei vários outros. Alguns morreram pelas ruas e alguns doei. Então, fico pensando: imagina a quantidade de animais que não deixei sofrer nas ruas e a de bichinhos que não nasceram e não foram abandonados devido a esse trabalho? Por isso, me sinto no dever de passar esta mensagem a vocês. Tenham mais amor e empatia pelos animais. Eles não têm culpa de nascer e de estar nas ruas. Muitos xingam eles por estarem virando latas de lixo. Todos fazem isso apenas quando sentem fome. Eles não queriam viver assim. A culpa desse quadro é do ser humano mesmo. O pessoal tem que ter mais empatia e não abandonar e maltratar os animais. Quando ver alguma cena dessa natureza, procure soluções. O Poder Público tem muitos recursos atualmente, como consultas, castrações… Isso ajuda bastante. Se não tiver nenhum auxílio, não bata, não judie. Nada justifica esse tipo de atitude”.
Além do trabalho em prol dos animais, Yaçanã também criou um perfil para defender a causa felina e postar imagens e curiosidades sobre os gatos na rede social Instagram. A conta “Gatil – Mundo dos Gatos” já tem mais de 94.500 seguidores e anda a todo vapor. Para acompanhar a página basta procurar por @gatilmundodosgatos.
* Matéria publicada na edição 526 do JPF, do dia 30 de janeiro de 2021.
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