Mais um capítulo da história poço-fundense se encerrou no mês de agosto. Após 55 anos atuando na Praça São Francisco, chegou ao fim a Barbearia do Zé de Paula. Considerado um ponto de encontro clássico para trocar um dedo de prosa, o local marcou a história do município. Centenas de pessoas cortaram o cabelo, apararam o bigode ou fizeram a barba naquele lugar, onde cerca de 90% da população esteve presente, fosse na infância, durante a adolescência ou já na vida adulta.
O emblemático salão também foi o responsável por proporcionar diversas conquistas ao proprietário José de Paula Terra (72 anos), o “Zé de Paula”, que iniciou sua carreira ainda moço, em 1962, numa barbearia situada no bairro São Benedito. Em 1964, quando começou a namorar a esposa Maria José, acabou indo trabalhar com Antônio Leocádio da Silva, o “Antônio Barbeiro”, na Avenida Doutor Lélio de Almeida, pois o profissional era muito amigo de sua companheira e queria alguém para lhe auxiliar nas atividades, que não eram poucas.
No dia 17 de setembro daquele mesmo ano, sua mãe comprou os equipamentos e instrumentos de um salão e o presenteou. Como a amizade com “Antônio Barbeiro” já era grande, chamou o colega para criarem uma sociedade e se instalaram em um cômodo situado abaixo da casa do então produtor rural Hélio Ferreira, onde atuaram durante anos e ponto no qual Zé de Paula permaneceu até o dia 13 deste mês.
No decorrer das mais de cinco décadas de serviços prestados à comunidade gimirinense, foram inúmeros os clientes, como o próprio cabeleireiro recorda. “Praticamente, a população inteira de Poço Fundo passou por esta cadeira. Não consigo nem imaginar o número de pessoas que sentaram aqui para cortar o cabelo, aparar o bigode ou fazer a barba. Muitas famílias se tornaram frequentadoras da barbearia, passando a tradição de avô para netos e bisnetos. Além disso, sempre fui muito requisitado para atender em casa aqueles clientes que já não tinham condições de vir à barbearia, mas faziam questão de cortar o cabelo comigo. Criei inúmeros amigos no meu ofício e, graças a Deus, consegui dar o melhor à minha esposa e aos meus filhos Gleyson e Aleysson, que se formaram, respectivamente, em Farmácia e Medicina. Fui extremamente feliz aqui e espero ter servido à sociedade com aquilo que sei fazer”.
Indo um pouco mais além nas palavras e já demonstrando certa emoção pela despedida e fechamento do salão, Zé Paula explica que a decisão foi tomada devido a alguns problemas familiares que está vivendo. “Como já sou aposentado, resolvi encerrar minhas atividades e ir embora para Ipatinga, a fim de ficar mais perto do meu filho Aleysson e também porque minha mulher anda doente e quer se tratar com ele. Como estamos com idades avançadas, pretendemos aproveitar um pouco mais o tempo ao lado de quem dá sentido às nossas vidas”.
Por fim, Zé de Paula externou o que estava sentindo por deixar Poço Fundo, agradecendo a população pelas mais de cinco décadas de companheirismo e confiança em sua profissão e relembrando sua trajetória. “A minha história no município pode ser classificada como a melhor experiência que tive na vida. Minha infância foi aqui, trabalhando. Aos 13 anos estudava de manhã e, à tarde, ajudava o Alberto Romanelli a ferrar cavalos. Depois de um tempo fui auxiliar o Marinho Sapateiro. Posteriormente, trabalhei no Bar do Ré e do Nandinho, que eram sócios, vendendo picolé na rua. De lá saí em 1962, quando fui para Campanha aprender a cortar cabelo. Retornei, atuei em alguns salões e iniciei meu próprio negócio ao lado do saudoso Antônio Barbeiro. Devido a tudo isso que passei em Poço Fundo, só tenho a agradecer. É difícil explicar o sentimento em deixar esta terra abençoada e tão acolhedora. Começo outra vida daqui pra frente, mas peço a Deus que continue olhando por todos. Sentirei saudades, mas sinto que minha missão foi cumprida com sucesso. Não deixarei de visitar a cidade, e estarei aqui constantemente para rever os amigos”.