Nos últimos dias, uma decisão tomada pela Prefeitura em conjunto com a recém-instituída Comissão de Trânsito deu o que falar. As alterações das mãos de direção de quatro vias do Centro, implantadas para tentar solucionar problemas relacionados ao tráfego de veículos e, ao mesmo tempo, desafogar o fluxo de automóveis no setor mais movimentado do perímetro urbano, provocaram diversas reações em moradores dos referidos logradouros e profissionais que utilizam os mesmos para fazer suas rotas diárias de trabalho. Questionamentos condizentes à consulta popular também foram feitos, e as únicas respostas dadas pelos responsáveis é que o veredito ainda está em caráter experimental, podendo ser revogado caso não provoque o efeito esperado, e que todas as dúvidas pertinentes ao fato serão respondidas apenas via Facebook, em grupo criado por assessores do Executivo para este fim.
Diante das polêmicas, a reportagem do JPF saiu às ruas para saber a opinião da população. Dentre as várias pessoas ouvidas, a grande maioria cobrou mais transparência na tomada de decisões que podem influenciar o cotidiano da comunidade, bem como questionou “a atitude consentida por um grupo de representantes da sociedade civil que não consultou cidadãos ou fez uma pesquisa para apurar o que os munícipes realmente querem”.
Segundo um professor, que preferiu não se identificar, a medida foi equivocada e sem sentido. “A partir de agora, vamos dar umas voltinhas a mais na cidade. Só rindo mesmo da situação. A mudança em um trecho da Rua Prefeito Isaías de Carvalho, que se tornou mão única rumo à Capitão Antônio Gonçalves, está totalmente errada. Entendo que, ali, deveriam extinguir os estacionamentos da via, deixando-a em mão dupla, a fim de evitar transtornos. Por exemplo, quem sai da Rua Joaquim Tavares Paes sentido ao bairro Mãe Rainha terá que aumentar o percurso consideravelmente. Além disso, qualquer caminhão que sair de armazéns de café ou de postos de gasolina para fazer a esquina da Capitão Antônio Gonçalves com a Professor Ramos ou com a Bartolomeu de Oliveira terá que cumprir uma missão impossível. Apenas mágico para conseguir isso. Ou, então, os utilitários terão que sair lá na Avenida Doutor Lélio de Almeida”.
A mesma visão tem uma dona de casa, que, com medo de sofrer retaliações, preferiu manter o anonimato. “Quero só ver como as carretas de café vão sair de um armazém situado ali na Prefeito Isaías de Carvalho. De certo, vão ter que ‘flutuar’ para ter acesso ao trevo. Só observo as decisões. Acho que mudaram sem analisar a situação. Isso não é problema meu, mas vamos respeitar o que tiver que fazer. Porém, continuo achando que não pensaram muito e não fizeram estudos plausíveis para chegar a tal conclusão”.
Já um caminhoneiro ouvido pela reportagem do JPF, que também preferiu não revelar sua identidade, foi mais realista. “Imagina só, um caminhão carregado, com aproximadamente 15 mil quilos, tendo que subir qualquer morro que seja ou fazendo essas esquinas apertadas do Centro. Vai ser um Deus nos acuda! Isso não vai funcionar. Vai complicar, e muito, a vida dos motoristas, tanto de veículos pesados como de carros de passeio e motocicletas. Com essa alteração, os caminhões vão acabar saindo na contramão. Nenhum caminhoneiro, em sã consciência, vai conseguir subir carregado até a parte alta do Centro. Tem uns bitruck que colocam vinte toneladas. Se começarem a transitar pela área central vão “rachar” as casas todas. Digo isso porque tenho caminhão. O meu, se precisar, ainda consegue virar na Rua Professor Ramos. Agora, os grandes não têm condições de fazer essas manobras. Quem fez essas modificações não entende nada de trânsito. Ou melhor, não pensa nas dificuldades dos outros”.
Outra mudança que gerou questionamentos foi a da Bartolomeu de Oliveira. De acordo com um morador, a alteração do sentido de tráfego rumo ao Fórum é uma decisão que pode complicar mais o trânsito ao invés de melhorá-lo. “Não quero nem ver o tanto de acidente que vai ter na esquina do Fórum. Já presenciei muitos e sei do que estou falando. Quem vem da Ferreira de Assis pra sair na Doutor Lélio de Almeida não tem visão nenhuma de quem está subindo a Praça São Francisco. Isso, por si só, aumenta muito o risco de colisões, pois os motoristas não conseguem enxergar o trânsito normalmente. Todos têm que contar com a sorte para sair dali sem provocar acidentes. Agiram errado e devem rever isso antes que algo de grave aconteça. Além do mais, teremos outro dissabor na Barão de Alfenas, que, agora, tem mão única rumo a uma agência bancária. Com esta alteração, aquela passagem em frente à Igreja Católica só servirá para quem quer ‘dar o balão’ na Praça São Francisco, já que é contramão vir do ‘São Benedito’ pra cá. Ou seja, estão tomando decisões sem analisar o que realmente importa”.
Houve também manifestos a favor das medidas, como o de uma empresária que conversou com a equipe. “Toda mudança gera polêmica e dificuldades. Vamos aguardar as coisas irem se ajeitando. Onde erraram têm a chance de corrigir. E vamos ser sinceros: existem ruas aqui que não dá mesmo pra ser mão dupla, mas tenhamos calma. A mudança assusta sim, mas, no fim, tudo dará certo”.
Diante das discussões e pedidos de revisão da decisão, a reportagem do JPF tentou entrar em contato com representantes da Prefeitura para obter um parecer sobre o caso, mas sem sucesso.