Uma família de produtores rurais passou cerca de cinco horas nas mãos de ladrões, que tentaram roubar 188 sacas de café de um sítio do bairro Morais. O crime foi cometido entre a noite do último dia 9 (terça-feira) e a madrugada do dia 10 (quarta-feira). A Polícia Militar conseguiu recuperar o produto levado, e os meliantes fugiram. Ninguém ficou ferido, mas o sufoco foi grande.
De acordo com o dono da propriedade, que tem 47 anos e solicitou não ter a identidade revelada, três homens encapuzados renderam ele, a esposa e suas duas filhas (uma de 6 e outra de 14 anos), quando a família chegava ao sítio, por volta das 20 horas do dia 9.
Os bandidos estavam armados com revólveres e uma escopeta calibre 12. Eles pediram as chaves do armazém e, de lá, retiraram as sacas de café, já provavelmente com apoio de comparsas, colocando-as em um caminhão com placas de Campestre, que, segundo levantamentos preliminares, seria clonado.
Afobados, os ladrões quebraram uma das colunas do portão de acesso à área de estocagem com o caminhão que utilizavam. No pátio, ainda deixaram o motor “morrer” e, depois, danificaram um trator para conseguir dar um “tranco” no veículo.
Após conseguirem o que queriam, dois dos meliantes saíram com a carga, enquanto um permaneceu na casa com as vítimas.
Cerco
Acionada por vizinhos, que estranharam o excesso de barulho na propriedade, a Polícia Militar foi imediatamente ao local e logo se deparou com o caminhão, que foi abandonado pelos marginais.
Conforme moradores da área, tiros acabaram sendo disparados, mas esta informação não foi confirmada. Viaturas de Machado deram apoio aos trabalhos.
Depois de literalmente botar os bandidos para correr, a Guarnição que atendia à ocorrência foi ao sítio. Com a chegada dos militares, o terceiro ladrão também escapou.
Dentro do utilitário, foram encontrados 28 cartuchos intactos de calibre 12 e outros dois deflagrados. As sacas foram recolhidas e encaminhadas a um armazém de Poço Fundo, e o caminhão removido ao pátio credenciado, após apurações da Perícia da Polícia Civil.
Momentos de pânico
Durante o período em que ficou com as vítimas, o meliante responsável pela vigilância deixava todos em desespero, apesar de agir com muita calma.
De acordo com a esposa do proprietário, ele ficava movimentando o tambor do revólver e engatilhando-o repetidamente.
Num determinado momento, já de madrugada, um lavrador que trabalha no sítio foi ver, com o irmão, o que estava acontecendo, pois ouviu o barulho causado pelo trator no pátio. Naquele instante, um dos assaltantes apontou-lhe a escopeta, e ele fugiu.
O bandido então obrigou o sitiante a ir atrás dele, ordenando que não chamasse a Polícia, senão todos seriam mortos. O homem, apavorado, encontrou o irmão do empregado, que também tinha ido lá, e pediu que ele fingisse ser o funcionário. O rapaz aceitou representar a farsa e passou mal enquanto permanecia na mira da arma do ladrão.
“Vemos essas coisas na TV e não acreditamos que um dia aconteça com a gente. Não dá nem pra explicar o que passei”, disse o trabalhador rural, após ser libertado.
Informações privilegiadas
A Polícia estuda a hipótese de que o trio de meliantes obteve informações privilegiadas sobre o lugar e a família que foi feita refém. Falas dos próprios bandidos às vítimas aumentam esta suspeita. “Um deles dizia que era pra gente trabalhar menos, porque fazíamos com que outras pessoas ficassem de olho no que produzimos. Ele aconselhou que devo tomar cuidado com quem trabalha comigo, pois, por aproximadamente R$ 1 mil, estes empregados, pobres, vendem até a alma”, relatou o dono do sítio.
O agricultor citou ainda que, há dias, um veículo suspeito rondava a área e que estava desconfiado de que algo errado estava acontecendo já desde a saída da casa de seu pai, na cidade, para seguir para a roça. “Uma motocicleta com dois caras estranhos passou por nós por duas vezes, olhando pra dentro do carro. Parecia mesmo que estavam nos seguindo”.
As apurações do caso, feitas pela Polícia Civil de Poço Fundo, estão em andamento.
Suspeito detido
Durante as intensas buscas pelos ladrões, na tarde do último dia 10 (quarta-feira), a Polícia Militar recebeu informações de que um jovem de 27 anos tentava contratar um mototáxi para fazer uma viagem à vizinha cidade de Campestre, justamente a que estava inscrita na placa do caminhão apreendido após o roubo no bairro Morais. O rapaz vestia roupas semelhantes às de um dos participantes do crime.
Os militares foram ao local e conseguiram abordá-lo e detê-lo. Ele negou envolvimento no assalto, mas surpreendeu ao confessar que estava no município com a intenção de cometer um outro delito: furto de animais bovinos. “Só olhei umas vaquinhas pra vir ‘pegar’ depois”, disse aos policiais e à reportagem do JPF no Quartel de Poço Fundo.
Além dos fatores já citados, o preso também apresentava marcas de arranhões no rosto, o que levou à desconfiança de que ele poderia ser um dos que fugiram por meio de bambus e arranha-gatos às margens da estrada da comunidade, abandonando o utilitário carregado com as sacas subtraídas do sítio. Mesmo assim, insistia em dizer que se machucou tentando atravessar cercas de arame farpado para observar os bovinos.
O jovem, que estava em liberdade condicional após condenação por tráfico, acabou sendo levado à Delegacia de Poço Fundo, mas não foi reconhecido pelas vítimas e nem por testemunhas, sendo por isso dispensado.