Uma audiência realizada na Câmara de Vereadores de Poço Fundo, na noite do último dia 3 (terça-feira), com o objetivo de tratar sobre o uso de espaços públicos para eventos e lazer, terminou após muita discussão e sem nenhum acordo. O encontro, na verdade, foi um pretexto para falar a respeito de um possível fechamento de vias da Avenida José Evilásio Assi de forma recorrente (não se falou sobre nenhum outro lugar), algo desejado por alguns comerciantes, mas execrado por moradores da área e pelas Polícias Civil e Militar.
A reunião começou com algumas palavras do prefeito Renato de Oliveira. Ele afirmou que ali seria o espaço para reclamações, sugestões e troca de ideias, e antecipou que nem tudo o que se almeja pode ser feito, mesmo que isso parta de um grande número de interessados. “É bom lembrar que, numa democracia, nem sempre vale o que a maioria deseja. Há que se respeitar os direitos individuais e a lei, seja qual for o intuito. Por isso, o que vamos fazer aqui não é impor propostas e, sim, ouvir a todos para chegarmos a um senso comum”.
Para iniciar as discussões, a palavra foi dada às Polícias Militar e Civil, e tanto o sargento Reginaldo Faria como o delegado Éder Neves foram enfáticos em ressaltar que um possível impedimento de ruas acarretaria sérios problemas de segurança para a cidade, que conta com pouco efetivo policial, mas, até o momento, mantém índices baixos de criminalidade, algo que seria drasticamente modificado com a medida.
Para ambos, interditar o logradouro para eventos fixos do calendário, como o Carnaval e shows, não gera dissabores mais graves, pois há um planejamento para isso, mas promover fechamentos recorrentes com o objetivo de favorecer bares e lanchonetes pode trazer enormes problemas para o trânsito, residentes e, especialmente, para as autoridades, já que aumentaria o fluxo de meliantes de outros setores por lá.
Moradores também se manifestaram contra a ideia. Alguns foram, inclusive, bem enfáticos ao reclamar de um impedimento feito no último dia 23 (sábado), a pedido de um estabelecimento pertencente à vereadora Edicelma Ramos (aliás, a principal razão da convocação da audiência).
Rita Alves, por exemplo, alegou que a ação foi um “retrocesso” para o município. “Antes mesmo de ter qualquer pessoa na avenida, o caminho para minha casa estava bloqueado. Só vi isso em cidades onde filhos de coronéis isolavam as vias para a própria diversão”.
Outros participantes reclamaram do som alto, promovido por um palco montando em frente a Praça José Caetano Neves, naquela data, porque boa parte dos residentes da área é de idosos, e uma moradora da Avenida João Gonçalves de Lima revelou que o número de usuários de drogas cresceu em sua área devido às mudanças.
O único residente a defender uma possível interdição foi o médico Celso Pereira. Segundo ele, depois que o logradouro passou a ser mais movimentado, com eventos, até o índice de detenções aumentou.
A “comemoração”, no entanto, foi rebatida com um forte argumento do cabo PM Eduardo Mendes. “Se houve mais prisões e abordagens na avenida foi exatamente porque a criminalidade, especialmente vinda de fora do município, migrou pra lá. Isso tem sido um grande problema. E é preciso lembrar que há outros estabelecimentos comerciais na cidade, outros pontos que necessitam de apoio. Vão fechar alguma mão da Avenida Dr. Lélio? Penso que não podemos fazer as coisas com dois pesos e duas medidas”.
A vereadora e comerciante Edicelma insistiu na defesa das interdições, defendendo que não se deve impedir avanços na oferta de diversão à população com base apenas no medo. “Podemos estabelecer acordos, horários, aumentar o efetivo com ajuda de nossos representantes, como temos aqui um assessor parlamentar. Acho que, com uma boa conversa, resolvemos isso”.
Outros comerciantes se manifestaram, dando sugestões de que apenas uma parte de cada via fosse fechada diante dos estabelecimentos (eliminando os estacionamentos nestes pontos), permitindo, assim, uma maior presença de clientes em mesas e cadeiras. Porém, para as Polícias Militar e Civil isso acarretaria sérios riscos de acidentes.
Por fim, a audiência terminou sem nenhum acordo. Por sugestão do assessor de deputado, Zetinho Pereira, sempre envolvido em questões que tratam de eventos no município, uma nova reunião seria marcada, na qual propostas concretas deverão ser apresentadas e discutidas.
Com a palavra novamente, o prefeito lembrou que é possível estabelecer formas de se atender às demandas de todos sem prejudicar a população. “Coisas como a reclamação da Rita, de que não conseguia entrar em sua casa, não podem acontecer de forma alguma, pois nada justifica interferir na vida dos moradores para favorecer a quem quer que seja”.
No encontro, mais uma proposta foi colocada em pauta: impedir, aos domingos, o trânsito das vias que circundam a Praça José Caetano Neves para que crianças possam se divertir sem riscos. Esta discussão ficou para uma próxima audiência, que, conforme a Prefeitura, terá sua data marcada em breve, após reunião do Poder Executivo com representantes das forças de segurança locais.